23/09/2008

Primavera

Felícia amarrou o buquê com um laço de fita de seda cor de rosa e o colocou junto a 20 outros buquês de tulipas. O cheiro natural das rosas era inigualável àqueles perfumes tão caros...
Vestida em seu vestido marrom-glacê armado, envolto na cintura por uma longa fita cobre, tratava de carregar no dorso do cavalo aquilo que lhe daria o sustento ou um simples prato de comida para mais tarde à noite... Florista não significava trabalho fácil, hoje em dia nada é tão fácil quanto parece, nem o era há muito tempo atrás.
O chapéu de verão pendia em seu pescoço, preso, mas sem machucar. Ai de quem ousasse tal feito, macular a pele branca e salpicada de estrelas enegrecidas era como pecar o maior pecado do mundo. Felícia era pura e seu sorriso o mais bonito.

Manhã de 1814, o sol ainda tinha sono... Era um vale, um jardim, o quintal do casarão do barão e família. Estavam à beira de um lago, ele deveria ter pagado para faze-lo, havia muito mais dinheiro do que aqueles bolsos agüentariam carregar, ou aquelas cestas cheias de flores que Felícia era encarregada de encher até a borda. Não fosse isso não seria bem paga, ainda que o que recebia era uma miséria.
Mas aquele quintal, embora lhe fizesse ter repulsa pelo esbanjamento do barão e a fizesse erguer um canto dos lábios, lhe dera o melhor presente que poderia desejar em toda sua vida... Quando o sol nascia toda sua luz tocava primeiro os vinhedos e os álamos, e as grandes construções de trepadeiras nos muros altos do casarão. O orvalho era sugado de volta ao céu, e as ervas e gramíneas pareciam balançar a música matinal... Havia flores por todos os lados e cestas rasas para se encher.
Ao abaixar-se Felícia contentou-se em arrancar com certa tristeza nos dedos e olhos uma tulipa corada em vermelho. E uma a uma foi sendo arrancada, enquanto o som de sua música ressoava, a florista irrompeu um canto junto ao coral da mãe natureza... Era primavera!





3 comentários:

Ela disse... Ele disse.. disse...

E eu conheço o termo céu claro salpicado de estrelas enegrecidas ..rs.
Nossa. nem preciso comentar e elogiar o quanto vc tem escrito bem heim? Vejo traços claros de certa influência de asas escuras rs
Mas parabens.. mesmo.. muito bom.. to boquiaberto!
talento é de família?
beijo no coração e Feliz Primavera

Tyr Quentalë disse...

Não ligue para o Irmão que diz que tens tido influências de certas Asas Negras, pois talento tens de sobra. Sempre o tiveste.
Tuas histórias delicadas nos delineares de tua escrita, tornam-te mais bela que aquele que possui as linhas mais densas e carregadas de dor.
E mesmo na dor de arrancar do solo uma flor tão delicada para sustentar a frivolidades de um Senhor, são os ventos amornados que contornarão teus traços delicados.
Parabéns, Doce E.v.E

Anônimo disse...

Eu gostei, parabéns menininha.

As meninas aqui também gostaram, até copiaram para um caderno o.o
Acho que vão usar kkkkkkkkkk

 

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