02/06/2008

Chocolate Quente

Alison ajeitou os cabelos negros tirando-os dos olhos e da testa no qual grudavam e os amarrou firmes numa varinha de madeira. Sorriu para Anna enquanto a irmã enfiava o dedinho pequeno no encorpado chocolate derretido. Transbordavam as bordas da grande panela de ágata daquele líquido denso e escuro, borbulhava como lava de vulcão ativo, e estava quase tão quente quanto! Vai saber por que a menina não havia se queimado! Mas saboreou a mistura no dedo como se fosse algo maravilhoso que fizesse as papilas gustativas saltarem de felicidade. E naquela mistura havia um leve sabor de conhaque, fazia Alison querer encher uma xícara até a boca e cobrir aquela mistura quente e doce com chantili branco e viscoso. Os olhinhos escuros de Anna brilhavam perolados pedindo um pouco pra si. Mas fora mais que isso até! Alison deixou que a irmã se embebedasse de todo o chocolate que restava da panela, e mesmo tão quente, aquilo lhe desceu tão gostoso e numa temperatura surpreendentemente aturável. Elas riram felizes e saciadas, provocando soluços na menorzinha... E Alison, com os cabelos que voltavam a cair sobre os olhos desenhava com a mistura em seu dedo um coração dos dois lados da face de Anna.

- Você está feliz?
- Eu estou e você?
- Eu também estou...

Alison teve que despedir-se, teve que terminar o chocolate quente e nunca mais fazê-lo junto à irmã. Mas ela nunca esquecera daquela noite. Conheceu muita gente nova e esqueceu-se de alguns momentos, mas nunca daquele. Ela sempre guardava consigo um fiozinho de cabelo louro colado a uma agenda que andava sempre dentro de uma grande mochila verde de viagem. Era o fio de cabelo da irmã, que agora deveria ter 26 ou 27 anos...
Anna a abraçou, afagou e apertou o corpo da irmã contra o seu próprio e ela tinha lindos 27 anos bem vividos. Um tanto mais nova que Alison, que gostava de ter aproveitado até agora seus 34 comendo e se deliciando com chocolate quente com gosto de conhaque... E depois desta manhã reuniram-se as duas numa pracinha, cada uma com uma grande xícara de chocolate. E nem importava se estava frio ou grudento, quente ou em ponto aquoso, o importante é que depois de longos anos elas voltaram a se ver e a embriagar-se juntas.

- Você está feliz?
- Eu estou e você?
- Eu também estou, e com a mochila cheia de barras de chocolate...




4 comentários:

Anônimo disse...

Ahhhhh, que fofa esta histórinha! ^_^ Gostei!!! ^_^ Vc sempre escreve? Eu estou querendo escrever algo, mas às vezes não sei como começar...rs
Curti o blog. ^_~
Bises, chèrie!
Au revoir! ^_~

Tyr Quentalë disse...

Vejo que o chocolate quente a inspirou, não é mesmo? Quão delicioso é fazer esta iguaria na companhia das pessoas que iluminam nossa vida e mais deliciosa se torna esta receita em reencontros. Adorei, deu água na boca!

Anônimo disse...

Muito simpática a história, que traz uma melancolia sem tamanha dor, que envolve quem lê em lembranças da infância, lembranças de manhãs frias e do acolhimento de uma xícara de chocolate bem quente.

Um imenso prazer conhecer esse cantinho da blogosfera, meus olhos voltarão tantas vezes mais.

Anônimo disse...

Como assim eu não fui o primeiro dessa vez? Ah, não. Pode tratar de me alertar antes do que todo mundo das atualizações, estrupício.

Quanto ao texto ... achei fascinante.
E fiquei com vontade de tomar chocolate quente... com canela e chantilly. Hmmmm. Ou capuccino também serve. Ou mocha. Ou irish coffee. Ou qualquer coisa quente. Fiquei com vontade de escrever também. Quem sabe não revivo algum flog perdido por aí ... é um caso a se pensar.

Beijo gripado pra você, Cah. =*

 

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