Agora eu me encontro ligeiramente só, como a última tora a ser queimada dentro de uma lareira sucumbida em chamas ardentes, esperando para mergulhar numa temperatura tão quente... Eu olho para os lados e vejo estátuas, estátuas que se movem, mas que não possuem sentimentos, não são robôs, são pedra pura. Robôs são programados para amar, estátuas não tem amor... São sólidas como seus inexistentes corações. Robôs podem ter coração, estátuas não... E são elas que eu vejo sempre, entre um sacudir de olhos, entre uma risada alta e outra baixa, entre um levantar de mãos. O Vento, me trás uma mensagem esta noite e ele pede que eu destrua as estátuas, sempre tão quietas, sempre tão amorfas... Mas eu digo ao Vento, acalme-se, vá devagar, talvez pedra pura vire metal encarnado, talvez uma ponte pra atravessar pro outro lado. Lucile me disse uma vez, não aquela boca e aquelas palavras supérfluas que arranhavam a garganta, mas os grandes olhos dourados com cheiro de introspecção e os cabelos vermelhos com gosto de cidra morango. Ela me disse, o Vento, pode ser uma estátua, um robô, um bichinho entre seus braços pedindo pra que o siga na próxima viagem. Lucile, eu lembro que os dedos eram amarelados, toda a palma da mão, e tinha manchas pelo colo, estrelas salpicadas, estrelas escuras num céu bem claro, nublado. E ela carrega um semblante sempre tão sereno, e umas asas enormes nas costas, asas de querubim que arqueavam ao som do Vento, que ela achava que era tão mais próximo que as estátuas. Elas agora estavam corroídas por causa da chuva e das aves. E eu volto a dizer, estátuas são tão patéticas... Eu posso ir lá e chutar uma, meter uma espada no coração delas e retirar estilhaços de pedras que elas nem vão reclamar. Não são como robôs, nem como Lucile, que tinham coração de metal... Mas tinham coração!
P.S.: A citação na coluna a sua esquerda foi alterada.